“Eu vejo uma transição do lixo ao luxo”, diz coletor que virou modelo
O coletor cachoeirense Tiago Lima alcançou o mundo da moda e é inspiração da categoria
Aos 29 anos, o coletor cachoeirense Tiago Lima acreditava que essa história de ser modelo não passava de uma ilusão. Até tentaram convencê-lo que possuía perfil para as câmeras, mas Lima logo excluiu a possibilidade.
No entanto, no mês de setembro – em mais um dia comum na coleta – um convite promissor fez Lima embarcar de vez na ideia. O empresário Eder Oza, que é dono de uma loja de aluguel de ternos para noivos na região de Cachoeiro de Itapemirim, propôs ao coletor um ensaio fotográfico para o novo editorial da loja. O resultado agradou tanto o empresário que Lima já está contratado para as próximas campanhas da loja, e se tornou o garoto propaganda em outdoors de Cachoeiro e em programas de alcance nacional.
Atrás do caminhão X na frente das câmeras
A oportunidade de realizar um trabalho de prestígio e reconhecimento fez com que Lima sentisse ainda mais a desvalorização da sociedade em relação ao importante serviço que presta como coletor. “Como gari, eu vejo uma transição do lixo ao luxo: não tenho importância como gari, mas ganho importância como modelo. Essa diferença sempre haverá. Não pretendo largar a coleta pois gosto do que faço. Meu colegas, os amiguinhos (as crianças) que nos esperaram sempre pra mexer e ver o caminhão, isso é cativante e me traz uma alegria imensa!”, declara Lima.
Ele reconhece que há muitos outros talentos na categoria, “mas por ser uma profissão bem desvalorizada pela população esses talentos se perdem”. O coletor destaca também o apoio e incentivo por parte de muitos colegas, mas não deixa de comentar sobre o desconforto que sente ao ter que lidar com comentários pejorativos.
Tiago, que já chegou a pensar em se tornar motorista para aumentar a renda, reconsiderou abandonar a coleta após se descobrir modelo e usar essa aptidão a seu favor. “Hoje eu não tenho essa necessidade devido a minha nova profissão”, confessa Lima, que decidiu continuar conciliando a coleta e o trabalho como modelo: o primeiro por orgulho e o segundo pelo talento nato.
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