Ela enfrentou o machismo e agora abre caminho para outras mulheres no mercado de trabalho
Em um universo em que a regra é ser homem, Elita Souza de Oliveira, 52 anos, luta diariamente contra a desigualdade de gênero no Brasil. Confira a entrevista com a porteira Elita, que trabalha no Cras de Nova Rosa da Penha, em Cariacica
Sindilimpe-ES – Por que você decidiu trabalhar como porteira?
Elita – Há uns 10 anos resolvi fazer um curso de portaria. Queria trabalhar em portaria de prédio. Na turma só tinham duas mulheres e o restante eram uns 10 homens. Eles falavam que nós não íamos ter futuro, que era profissão para homem, tinham uma postura machista. Terminei o curso, mas havia pouca oportunidade, e o tempo foi passando. No ano passado apareceu a oportunidade e o espaço foi aberto, coloquei o currículo e fui chamada. Não se via mulheres em portaria a um tempo atrás. Já estou no Cras de Nova Rosa da Penha há um ano e antes trabalhei em uma escola da Prefeitura de Cariacica.
Como é enfrentar um ambiente majoritariamente masculino?
Eles são tranquilos aqui no Cras, mas na escola os homens tinham um olhar mais crítico em relação a mim, com uma atitude mais machista. Mas os colegas de trabalho aceitam mais que o público.
Há estranhamento do público em geral quando se depara com uma mulher na portaria? Já sofreu alguma discriminação?
O público ainda tem resistência, incluindo as mulheres, achando que nós não somos capazes. Ainda tem gente que acha estranho. Vou fazendo amizade e ganhando a confiança das pessoas. Já houve situação em que fui discriminada por uma servidora da área pedagógica da escola que disse na frente de outros colegas de trabalho “que era isso que dava contratar pessoas que não têm capacidade para assumir o cargo”, se referindo claramente ao fato de eu ser mulher e à necessidade de pulso firma na portaria. A minha resposta foi demonstrar que eu era capaz e acabaram me pedindo desculpa.
Há medos relacionados aos riscos da profissão e ao fato de ser mulher atuando frente a esses perigos?
Às vezes temos que atuar para impedir a entrada de pessoas vestidas inadequadamente, alcoolizadas, em horários não permitidos, exigindo que cumpram as normas. Há pessoas que não aceitam as orientações, mas no diálogo resolvemos tudo. Eu já sofri violência verbal, mas não passou disso.
O que você considera que é preciso mudar para que mais mulheres possam atuar como porteiras e em outras profissões dominadas por homens?
Deveriam dar mais espaço para as mulheres e oportunidades de qualificação. Em algumas profissões a mulher é impedida de atuar. É preciso fazer um trabalho com as empresas para que elas contratem mulheres, abram vagas, por que muitas dessas empresas não querem as mulheres porque nós temos filhos, precisamos de licença-maternidade, temos que ir à escola, levar ao médico, e não querem arcar com isso, e aí o homem ganha a competição pela vaga. É preciso mudar esse pensamento.
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